domingo, 20 de janeiro de 2008

Demagogias

Na passada Sexta-Feira, faleceu um bebé numa ambulância a caminho do hospital, vítima de paragem cardio-respiratória;

Ontem ouvi o primeiro-ministro vitimizar-se, uma vez mais e sem novidade, do aproveitamento político do acontecimento, exaltando o respeito pelo sofrimento das pessoas. Sem novidade, pois sempre que ocorre uma situação trágica e se coloca a possibilidade (para mim, mais que possibilidade) de responsabilidade do seu governo com as críticas inerentes, ele sente-se uma vítima. A oposição é o seu carrasco! De salientar que é uma pena que o seu, publicitado “respeito” pelas vítimas não seja preventivo e se dirija a possíveis vítimas, mas sempre consequente e dirigido a vítimas concretas;

O seu ministro da saúde (não se justifica sequer autonomizar a ARS), também sem novidade, nega o nexo de causalidade entre o encerramento da unidade de urgências do Hospital de Anadia e o falecimento do bebé;

Não sou médica, longe disso. Mas, como qualquer pessoa e pela minha capacidade de pensar, interrogo-me: se a unidade de urgências estivesse a funcionar e a servir as pessoas, esta morte teria ocorrido? Foi uma coincidência?

São uma coincidência os partos em ambulâncias?

Poder-se-ia extravasar para inúmeras outras situações parecidas que ocorreram nos últimos tempos de exercício de uma política orientada por critérios de restrição de despesa pública. Mas a questão fulcral não consiste na restrição da referida despesa, que reputo mais que necessária. A questão, na minha óptica, reside nas prioridades. Na verdade, quando vejo escolas a fechar, centros de saúde, maternidades, unidades de urgência que serviam um considerável número de pessoas, a encerrar as portas, pergunto-me quais são as prioridades deste governo!

Eu assisto à diminuição da despesa pública com os cidadãos em geral, todavia ainda não vi quaisquer repercussões no âmbito da classe política (ou dos cidadãos em particular?!).

Não consigo ser alheia ao que me rodeia, para o bem e para o mal, e o que vejo entristece-me.

A pseudo-projecção internacional que o primeiro-ministro tanto fomenta, não me parece minimamente relevante num país onde as pessoas têm de ir nascer ao estrangeiro, ou em ambulâncias, ou morrem a caminho de um hospital mais longe do sítio onde moram; num país onde se tira um curso e depois não se tem oportunidade de pôr em prática os conhecimentos que adquiriu;

Um país de fachada, de aparências. À semelhança do primeiro-ministro e do seu governo (com letra pequena, como eles…).